12.27.2008

ser único

P. Quando de longe o animal viu o brilho, não duvidou. Sem saber se homem ou frio, caminhou sem medo à procura do início. Diante do chão que se erguia, pensou o que não podia ser pensado e vinculou ao andar a dor. A cada passo, então, não poderia nunca mais esquecer: a dor ressoava. Mesmo com os músculos perfeitos, o sol reluzindo no pelo, a fome saciada, corpo em peso e equilíbrio no auge do tempo. A cada passo, a lembrança da dor. De ser e estar, de livre caminhar, de um dia partir e ter decidido, em busca da luz, sentir só e ser único. Sem nunca parar, o animal continua, como uma lua, até a linha do horizonte sumir.

Escrito num papel de carta japonês de usagi, em Hiroshima, em setembro.

4 comentários:

Anônimo disse...

Nossa Gabi, está bom para escrever um livro, não só por este post, mas por todos que já li até hoje. Para ser único, pelo escrito, é uma caminhada e tanto...wau?!

Mari Mello disse...

Como assim a senhorita criou um blog e não me avisou? Hehehe. Já linkei você. Beijinhos, Feliz Ano Novo, tudo de bom e de maravilhoso!
Mari

Gabi Yamaguchi disse...

* Mili! Brigada pela visita! Viu? São papéis de usagi :)

** Mari Mari, fase beta total :)

Fernanda-uma-pessoa disse...

Quando a mulher viu de longe o vulto, não lhe deu as costas nem se aproximou: estendeu-se docemente no chão, quase entre o devaneio e a devoção, como se pedisse para que fosse descoberta. Ou despertada. Ou amada, loucamente amada, por qualquer ser vivente que farejasse. Havia uma disposição louca e veemente para a vida, além de um profundo respeito pelo mistério. Não importa o que se passou ali: importa mesmo é o que se passa cá dentro, além-músculos, num espaço chamado coração, num tempo chamado alma. E se fez a luz... e da luz, do barro, desse espaço e nesse tempo, surgiu a mulher. Essa.

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