P. Quando de longe o animal viu o brilho, não duvidou. Sem saber se homem ou frio, caminhou sem medo à procura do início. Diante do chão que se erguia, pensou o que não podia ser pensado e vinculou ao andar a dor. A cada passo, então, não poderia nunca mais esquecer: a dor ressoava. Mesmo com os músculos perfeitos, o sol reluzindo no pelo, a fome saciada, corpo em peso e equilíbrio no auge do tempo. A cada passo, a lembrança da dor. De ser e estar, de livre caminhar, de um dia partir e ter decidido, em busca da luz, sentir só e ser único. Sem nunca parar, o animal continua, como uma lua, até a linha do horizonte sumir.
Escrito num papel de carta japonês de usagi, em Hiroshima, em setembro.