8.25.2009

E quando só o que está longe nos encanta?



P.
É um sinal de quê? Quando vi as últimas fotos da Louise Chin e do Ignácio Aronovic, amigos Lost Art, pensei profundamente: que que estou fazendo mesmo? Que diabos é essa confusão mental corporativa que atrapalha o trabalho e a vida de todos? Besteira, pequenez diante do belo na arte, vontade de pisar no pé e sair correndo. Gente boba não deveria ocupar nossos pensamentos nem roubar nosso sono, né?

Tão belas as fotos. Vejam lá, a dançarina flutua.

Em pé de bailarina não se pisa.

Que ideia legal: blog de troca tudo!



T. Que fofo: li num comentário no fbk, da Fernanda Guedes, a indicação desse blog da Thais Ueda, designer profissa que assinou o layout do projeto 100 Anos de Imigração Japonesa que eu, Karen Tada e Pat Giu cuidávamos. No Feira Elétrica, as pessoas avisam o que tem em casa, quanto custa mandar e colocam à disposição de lances. Como esse Conjunto de Chá Sakuras e Crisântemos, muito lindo, né?

4.02.2009

uma tarde de sono


P. A invasão do cansaço a jogou na cama. Sono infinito, mas sem paz. Ao deitar num lençol de mil fios de algodão, o conforto do corpo tenta dissuadir os pensamentos de correrem. Mas eles já partiram. Chegam às lembranças do que faltou ser feito e dito, do que ainda precisa ser feito e dito. E alcançam, enfim, o sentimento de não ser o suficiente. Eméritos e amados já tinham realizado tanto nessa idade, nesse tempo. Mal-estar da incerteza. No sonho que se perde, submerge quem é e tenta ser. Perdido o tempo e o pensamento, flutua o arrepio da alma que busca... o quê?

Foto do pé de manjericão da casa da minha mãe, que virou quase uma pessoa de tão grande. Quintal é tudo.

3.31.2009

ser assim distante



P. Nos últimos momentos deste março, que tanto foi duro e marcou a carne, queria voltar a ser, assim, em simples silêncio, a amiga distante. Ouço a música de quem partiu, e penso que em nada a dor interessa um twitter ou um blog ou tantos. A folha de papel vazia é tanto mais espaço que esse espaço infinito.

3.23.2009

gran torino




C. Assisti a sessão da meia-noite, no Unibanco Artplex. E sempre acabo por agradecer por não ter assistido antes nenhum trailer do filme. Porque o ritmo se revela, a trama não está anunciada. (Adoro trailers, fazem parte da magia e da imersão no escuro. Silêncio absoluto tanto quanto, licença para os últimos sons de papel de bala ou garrafas se abrindo que cabem na tolerância.) Clint Eastwood tão velhinho, mas com uma presença tão enorme que não cabe na tela. Ri e chorei, personagem apaixonante. Adorei os grunhidos de raiva, prestem atenção. Quando eu crescer, vou espantar todos os fantasmas dos dias com uma cara brava como aquela. Imperdível, atenção para a música dos letreiros finais. Vou descobrir mais sobre ela.

3.12.2009

equador


P. Seus pais a fizeram prometer que não faria o mal. Que diante do infortúnio teria brios de manter o amor ao próximo. Ela descobriu que as têmporas calmas só eram garantidas com o vento do sul, gélido e incontrolável. E que sua natureza era regida pelo sol do equador que arde incontrolável. Garante a luz e o calor, queima quando se pisca. Pensou e pensou. Subiu num palco, agradeceu, e foi à praia.

giz de cimento


P. Quantas vezes a chorar a história foi contada? Quantas vezes a lembrança serviu de placidez ao discurso? Tantas que o coração parece um giz em lousa de cimento: corre rápido deixando pedaços nas linhas, fica pequeno. Pode a esperança acabar? Pode a respiração perder o ar? Somente um olhar cego garante o instinto do sentir, infalível, da coerência. Pode a certeza ser reta?

3.06.2009

o casamento de rachel



C. Tentei assistir O Lutador no Lumiére, mas perdi a seção: o celular tinha voltado ao horário de verão. E então assisti pela segunda vez O Casamento de Rachel, o melhor entre o que consegui ver este ano. Da primeira vez perdi as primeiras cenas numa sessão no Unibanco Artplex. E gosto, confesso, de assistir os filmes no cinema mais de uma vez. Detalhes, o som das folhas, o som de fundo que é de fato o que há. E este é um filme excepcionalmente ritmado nos detalhes.

12.27.2008

ser único

P. Quando de longe o animal viu o brilho, não duvidou. Sem saber se homem ou frio, caminhou sem medo à procura do início. Diante do chão que se erguia, pensou o que não podia ser pensado e vinculou ao andar a dor. A cada passo, então, não poderia nunca mais esquecer: a dor ressoava. Mesmo com os músculos perfeitos, o sol reluzindo no pelo, a fome saciada, corpo em peso e equilíbrio no auge do tempo. A cada passo, a lembrança da dor. De ser e estar, de livre caminhar, de um dia partir e ter decidido, em busca da luz, sentir só e ser único. Sem nunca parar, o animal continua, como uma lua, até a linha do horizonte sumir.

Escrito num papel de carta japonês de usagi, em Hiroshima, em setembro.

lírios de natal


P. Lírios laranjas chegaram, trazidos por um pato de natal.

invisível

P. Existe, na diversidade do que desperta meu interesse, a direção afoita de tudo encontrar e a tudo satisfazer. Mais que uma ambição se tornando gorda e intolerante, é um desejo de se perder no pó da dispersão que impele os passos. Ser assim invisível no mundo, passar despercebida na dor, ser única na solidão que envergonha. Construir um palco silencioso onde o espetáculo belo e forte fecha a cortina sobre o medo de sentir. Não há que ser menos que o melhor, há que ser o que minha própria voz proclama. Hei de acreditar na minha ilusão alimentada pela platéia, que bate plumas de surdo, querendo bis dessa dança desajeitada que se curva de tristeza para agradecer o fim.

Escrito sobre o papel de carta japonês de usagis batendo motis, no segundo dia em Hiroshima.

a tela brilha em tokyo

C. Sala do cinema em Tokyo onde assisti Ponyo, do Miyazaki.

o filho


P. Pensando no que faz diferença, o que permite que a sobrevida seja mais forte. Por mais que ter um filho seja anseio e continuidade, ele é outro. Seu, mas do mundo outros passos. Leves, as distâncias se perpetuam. É preciso parar para pensar: inevitável. Como pode um fato destruir o sono?
Escrito num pequeno papel japonês de anotações .

12.22.2008

ponyo on the cliff by the sea

C. Quando estive em Tokyo em setembro, os cinemas estavam todos enfeitados com a Ponyo, a menina-peixinho de cinco anos que se apaixona por um menino descalço. A nova animação de Hayao Miyazaki tem uma música-tema que toooooooooooodos os programas de TV não paravam de tocar. Contavam que, depois de vários filmes dedicados a temas mais adultos ou de crianças mais jovens, Miyazaki disse que queria encerrar a carreira com um filme, novamente, para crianças bem pequenas, como foi o Tonari No Totoro (Meu Vizinho Totoro), com o bichão que virou logomarca do Studio Ghibli. Assistir o filme lá foi o máximo: sala grandona, poltronas enormes, trailers de romances japas, sessão vazia e tranquila. Mesmo com meu japonês limitado, gostei muito, muito, muito. A química das lendas antigas japonesas de novo aparecem tecendo a ligação entre a realidade, muitas vezes cruel, e os personagens surreais. Claro que chorei, um tanto por ser descendente, mas um tanto porque, sempre, o que o Miyazaki gosta de contar são histórias que fazem a gente lembrar do que não pode ser esquecido.

Comprei a bonequinha no aeroporto de Narita, feliz da vida. Em Tokyo tudo já tinha acabado.